Em tempos de pandemia, a celebração dos festejos juninos ficou garantida na quarentena. A pandemia global pegou de surpresa os foliões nordestinos e alguns tiveram que se adaptar a um novo arraiá virtual. Embora aqui em Jequié, regras determinadas pelo Ministério da Saúde não foram obedecidas e moradores acenderam fogueiras, muitos fogos e teve até quadrilhas. Um morador do bairro Cansanção utilizou o microfone de uma rádio local nesta manhã de quarta-feira (24), para demonstrar sua indignação com as comemorações juninas nos bairro de Jequié em tempos de pandemia. Aproveitou para alertar aos foliões que o ‘‘Covid-19 é uma doença séria e que muitos não tem dado a importância de seguir as orientações determinadas para se prevenirem.’’ Disse ele. Mas não faltou criatividade para o ex-prefeito e professor Reinaldo Pinheiro que aproveitou seu lado saudosista e escreveu essa belíssima crônica que transcrevo na íntegra:
Nessa época, outroura, passados os festejos de Santo Antônio, 1 a 13/06, ia chegando a expectativa do São João. Lá em casa não era diferente! Mamãe providenciava o essencial: canjica, milho cozido, bolo, doce de jenipapo em bolinhas cristalizadas e licor. A visita que chegasse tinha algo a oferecer. A fogueira eu sempre fazia com papai. Nossa fogueira era simples, feita da mesma lenha que era usada no fogão da cozinha, mas papai construía com esmero. Ficava bonitinha, arrumada! Os fogueirões da rua ficavam por conta das de seu Vino, seu Arlécio e seu Miguel Bahiense. Vez por outra, os Js (2 e 3) iam buscar uma arvorezinha na fazenda de seu Nicodemus pra servir de ramo, colocado ao lado da fogueirinha. Enfeitava, ficava legal! Nossa rua não era calçada, facilitava a armação das fogueiras. A noite era uma festa! Todos (os sete) de roupa nova, fogueiras acesas, chiados de foguetes, pipocar das bombas, balões coloridos no céu, Luiz Gonzaga cantando nos rádios e radiolas. Nessa noite dormia-se mais tarde. O J1 soltava foguete com maestria! Os Js 2 e 3, creio, já beliscavam um licorzinho. Hi hi hi, Eu, não. Fundava na canjica coberta de canela e nas bolinhas de genipapo. Era bom! Por isso, lembro e sinto como se fosse hoje. Fogueiras não queimam saudade!
Reinaldo Pinheiro