Quando se menciona a palavra Bíblia, certamente, as pessoas associam o termo a prática religiosa. O mais conhecido livro sagrado da humanidade narra o surgimento e a história do homem na Terra para os adeptos do cristianismo, judaísmo e islamismo. No entanto, um professor da Uesb foi além da interpretação religiosa e utilizou o livro sagrado como objeto de pesquisa.
Ao observar que a Bíblia narra muitos episódios sobre diferentes práticas agrícolas, José Cláudio de Oliveira Flores, docente do curso de Agronomia, resolveu abordar o assunto desde o início da sua trajetória acadêmica. “Manejo das práticas agrícola e a legislação de Israel na Bíblia Hebraica” é o título da pesquisa que resultou, também, no e-book “Agricultura na Bíblia” .
A pesquisa verificou o grau de influência da religião, algo determinante na administração da produção entre os judeus monoteístas, e como o calendário agrícola era vinculado às festas religiosas e à posse da terra legislada, para impedir o latifúndio. Segundo o professor, “a Bíblia tem muita informação sobre princípios de administração, finanças e trabalho. Esse livro famoso não fala apenas de religião, mas de outros temas da área de Ciências Sociais e Humanas”, esclarece. Diante disso, Flores justifica a elaboração do trabalho por seu interesse a respeito da administração da agricultura com os princípios e preceitos para trabalhar.
Além disso, o pesquisador salienta que o principal propósito da pesquisa é descrever como é possível observar, de acordo com os textos do Velho Testamento, fatores que influenciaram a administração da produção agrícola. E mais, amplia o debate sobre os elementos dessa produção, discutindo variáveis ideológicas, ambientais e antrópicas, destacando questões como a ecologia de Israel, a posse da terra, o plantio, o manejo do solo, as plantas e animais, a colheita, o beneficiamento e a comercialização.
Antiguidade e atualidade – Levando em consideração o conceito acadêmico de “práticas agrícolas” e se fossemos comparar com um tipo de modo atual, Flores diz que se assemelha com a praticada pelo homem do campo, indígenas e quilombolas. “Considerando o período histórico analisado, as tecnologias utilizadas eram simples, sem sofisticação. Há coisas parecidas que percebemos entre pequenos agricultores, que também manejam técnicas simples”, revela.
O trabalho apresenta conceitos como posse de terra, etapas da produção agrícola, festas agrícolas etc., que podem ser identificados na história da agricultura israelita, desde a Antiguidade. Traçando um paralelo com o conceito acadêmico de “práticas agrícolas”, o professor afirma que “os termos evidenciam a importância do estudo, ao vincular a influência da religião no comportamento e forma do agricultor administrar seu negócio”.
Publicada originalmente como artigo na Revista Consciência (1992) e, também, em evento acadêmico do curso de História, em 2008, o professor José Cláudio de Oliveira não imaginava ver sua pesquisa ir tão longe. E você, leitor, depois de conhecer um pouco sobre essa pesquisa, certamente, vai ter outra leitura da Bíblia.