O Censo Demográfico 2022 contabilizou 8.441 localidades quilombolas no Brasil. Quase 64% desses espaços ficam na região Nordeste, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (19) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
As localidades vão além dos territórios oficialmente delimitados. São lugares onde o Censo verificou a existência de aglomerados permanentes de no mínimo 15 pessoas declaradas quilombolas, cujos domicílios estão a no máximo 200 metros de distância uns dos outros.
O mapeamento atende a uma demanda dessa população, já que a delimitação oficial de territórios “avançou muito pouco” ao longo das décadas no país, disse Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE.
“Desde que a gente começou a preparar o Censo, as comunidades quilombolas sempre salientaram que a gente não poderia se restringir às áreas oficialmente delimitadas, porque não são representativas do conjunto das áreas ocupadas pelos quilombolas”, afirmou o pesquisador.
“O Censo, já na sua primeira divulgação [sobre o grupo], confirmou isso. Só 12% da população quilombola, aproximadamente, está dentro dos territórios oficialmente delimitados. Por isso, fizemos um processo de identificação das localidades.”
Dados do recenseamento divulgados anteriormente apontaram que o Brasil tem 1,3 milhão de quilombolas. Do total, apenas 167,8 mil (12,6%) vivem dentro de territórios oficialmente reconhecidos, enquanto 1,2 milhão (87,4%) está fora das áreas.
Este é o primeiro Censo que traz detalhes sobre a população quilombola. O IBGE, contudo, não informou quantas pessoas vivem nas 8.441 localidades espalhadas pelo território nacional.
“Devido a limitações metodológicas e aos cuidados com a preservação da confidencialidade das informações estatísticas, não foi possível, nesta publicação, definir a população residente em cada localidade quilombola”, declarou o instituto.
O que os números apontam é que 85% das localidades (7.160) ficam fora de territórios oficialmente delimitados. A fatia restante, de 15% (1.281), situa-se dentro de áreas formalmente reconhecidas.
O pesquisador lembrou que um mapeamento prévio do IBGE, referente a 2019, havia contabilizado 5.972 localidades no país –patamar inferior ao do Censo 2022 (8.441). Segundo o técnico, o recenseamento aprimorou o trabalho de identificação, o que teria contribuído para um alcance maior.
“Agora, com o resultado do Censo, conseguimos aperfeiçoar o mapeamento e produzir uma visão atualizada e muito mais completa, porque parte da declaração dos próprios informantes quilombolas”, afirmou.
De acordo com o recenseamento, as 8.441 localidades estão associadas a 7.666 comunidades quilombolas no Brasil. A diferença nos números se justifica porque duas ou mais localidades podem pertencer a uma única comunidade.
As localidades são os espaços físicos, os lugares de moradia dos quilombolas, enquanto as comunidades são organizações que unem os grupos.
“Esse pertencimento está relacionado a questões étnicas, históricas e sociais, de modo que uma mesma comunidade pode ser composta por mais de uma localidade, conforme a necessidade de dispersão espacial e as formas de organização locais e regionais de cada grupo”, disse o IBGE.
As localidades ficam principalmente no Nordeste, seguido de Sudeste, com 1.245 localidades quilombolas (14,75% do total), e Norte, com 1.228 (14,55%). O Sul (304 ou 3,6%) e o Centro-Oeste (278 ou 3,29%) fecham a lista.
No recorte por unidades da Federação, o destaque vai para o Maranhão. O estado registrou 2.025 localidades quilombolas, o maior número do país (23,99% do total).
A Bahia (1.814) aparece depois. Minas Gerais (979) e Pará (959) também tiveram mais de 900 localidades recenseadas.
Entre as unidades da Federação com aglomerados do tipo, o Distrito Federal mostrou o menor número: três. Roraima e Acre não tiveram registros.
O Maranhão também chama atenção por ter 11 municípios entre os 20 com mais localidades quilombolas no país. Os números mais elevados do Brasil foram verificados nas cidades maranhenses de Alcântara (122) e Itapecuru-Mirim (121).
Dados do Censo divulgados anteriormente já haviam indicado que a cidade de Alcântara tem a maior proporção de quilombolas no país —quase 85% do total de habitantes locais. O Maranhão também lidera o ranking dos estados, com 3,97% da população total declarada como quilombola.
Em Minas Gerais, Januária (101) teve mais de cem registros do tipo. Entre os 20 municípios de maior destaque, a única capital é Macapá, com 56 localidades quilombolas.
Quando a análise considera números absolutos, a Bahia aparece à frente, com o maior contingente de quilombolas do país (397,5 mil). O Maranhão (269,2 mil) vem na sequência.
Nas edições anteriores do Censo, os quilombolas eram contabilizados somente no resultado geral da população brasileira, sem a identificação atual.
Para mapear o grupo, o IBGE incluiu nos questionários de 2022 a seguinte pergunta: “Você se considera quilombola?”. Em caso positivo, o entrevistado podia responder, na sequência, a qual comunidade pertence.
Os quilombos surgiram como resposta à violência praticada contra os negros trazidos à força da África e escravizados no Brasil. Os primeiros registros desse tipo de formação datam da década de 1570.(bahianoticias)