A união do casal de idoso Antônio Malaquias da Silva, de 89 anos, e Terezinha de Maria da Silva, também de 89, sempre foram fortes. E dessa vez eles não fizeram diferente! Decidiram voltar à escola para aprender a ler e escrever juntos! “Eu acho que vai mudar muita coisa [alfabetizada] porque a pessoa quando não sabe ler, um pingo é letra, né? Ontem eu fiz meu nome na lousa tudo direitinho. Eu fiquei tão alegre. Deus está me ajudando, abrindo meus caminhos. Eu quero estudar”, comemorou Terezinha Ela e seu Antônio são de Ribeirão Preto, interior de São Paulo e trabalharam na roça. Hoje, eles são alunos do programa Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Os dois dizem que essa era a oportunidade que faltava para abandonar anos e anos de incompreensão das letras. O casal de idosos sai de casa todas as noites para frequentar a escola. Eles contam que está sendo divertido e desafiador aprender a ler e escrever. E mesmo até as dificuldades comuns do aprendizado têm sido gratificantes. Elas trazem o conforto de não precisar mais de ninguém para “resolver as coisas”, como diz o administrador de fazenda aposentado.
Na juventude, impedido pelo trabalho na roça, o casal de idosos não pôde frequentar as aulas. Na infância, dona Terezinha foi impedida de estudar pela tia que a criou porque a menina precisava fazer as tarefas em casa e na roça. Ela afirma que sempre pedia para frequentar as aulas na escola da zona rural, mas não era possível. “Ela ficava brava comigo quando eu falava ‘deixa eu estudar, tem uma escola aqui pertinho’. Eu via os meninos irem e conversava com eles escondido dela”, lembra a dona de casa. “Os meninos falavam: ‘por que sua tia não deixa você estudar?’. Eu falava: ‘ela não deixa porque eu tenho que fazer comida, ajudar ela’.
Ela tinha só um menino e o menino dela ia para a roça também trabalhar”, explica. Com Antônio, o trabalho cedo também foi o motivo da falta de estudo. Ao longo da vida, ele se dedicou a administrar fazendas e a cuidar do gado e da lavoura. As aulas foram ficando em segundo plano. Os dois vivem juntos há 40 anos e têm um filho. Agora, na terceira idade e com a vida mais tranquila, resolveram que era hora de realizar o sonho antigo de ler as palavras e assinar o próprio nome. “Era uma coisa que eu sempre quis e não consegui. Agora, depois de rapaz mais novo [risos], né, eu estou conseguindo. Vou seguir a vida. Aí já não precisa mais de a gente ficar dependendo dos outros. Muda tudo”, diz o aposentado. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem 11 milhões de pessoas consideradas analfabetas. O objetivo do Plano Nacional de Educação (PNE) é de alfabetizar toda a população até 2024. O casal experiente faz parte do projeto.
Transcrito do SóNotíciaBoa
Texto:Por Monique de Carvalho