O médico Radiologista José Augusto Muccini, reside em Jequié há 32 anos e
falou ao nosso blog um pouco da história do aeroporto Vicente Grillo, não só porque ele é apaixonado pelo esporte aeromodelismo, como também fez questão de dizer que continua acreditando na Cidade Sol.
Conheci o aeroporto Vicente Grillo em meados de 1979, ao chegar a Jequié (por terra), e, desde então se estabeleceu um vínculo que permanece até os dias atuais, em razão não só da beleza natural do lugar, mas, principalmente, por ser um aficionado da aviação e ter como hobby o esporte ciência, o aeromodelismo. No aeroporto Vicente Grillo recém apresentado, e dado as suas características, estava então à oportunidade de um contato bem próximo com as aeronaves, visitantes eventuais, e a prática do aeromodelismo num espaço muito privilegiado.
Naquela época já se encontravam baseadas em Jequié, algumas aeronaves de pequeno porte, monomotores particulares, de pecuaristas da região. No passado mais remoto, é sempre bom lembrar, grandes companhia aéreas que interligavam capitais e cidades do país faziam escala em Jequié, a exemplo da Real e Panair do Brasil.
Nos anos 80, Jequié foi contemplada com uma linha aérea, sob a responsabilidade da Nordeste Linhas Aéreas que, operando aviões Bandeirante, conectava Salvador, Jequié e Bom Jesus da Lapa, realizando vôos diários ida/volta na mesma manhã, chegando as 7:00h em Jequié dirigindo-se para Bom Jesus e, saindo de Jequié para Salvador as 10:30h, chegando na capital as 11:20h. Aproximadamente 45-50min de vôo. Uma excelente e acessível opção para viagens de negócios e lazer.
Mesmo necessitando equipamentos de segurança ao vôo, como balizamento e iluminação da pista, sempre questionados pelos pilotos que por aqui aportavam, foi um grande avanço para Jequié e região circunvizinha que já podiam fazer conexão com vôos para outros destinos no Aeroporto Internacional Dois de Julho/Luis Eduardo Magalhães, na capital baiana. Mas, infelizmente, a ligação de Jequié com outras cidades por via aérea não teve vida longa. Segundo consta, a ocupação dos assentos por aeronave foi com o tempo progressivamente diminuindo até atingir um nível que inviabilizou a manutenção da linha, ficando o aeroporto excluído das rotas regionais, mais uma vez vazio, recebendo apenas ocasionais vôos fretados e raras escalas técnicas.
Assim, durante alguns anos, o aeroporto Vicente Grilo ficou esquecido, até quando foi fechado e realizado uma grande reforma nas instalações do terminal, reconstrução da pista de pouso com +- 1280x30m, gerador de emergência, pátio de estacionamento com excelente iluminação e balizamento da pista o que permitiu, no dia da sua inauguração, a decolagem noturna dos vários aviões que aqui pousaram trazendo representantes políticos e autoridades para o evento. Evento este que foi um marco para a cidade de Jequié, pois agora ela dispunha de um equipamento dotado de recursos modernos oferecendo maior segurança sendo mais um ponto de apoio para as operações de vôo na região.
Mas o que aconteceu? O aeroporto antigo, atendendo os anseios da população, foi transformado, renovado, reconstruído podemos dizer assim, e ali ficou, novo em folha, asfalto negro na longa pista com as dezenas de rumo magnético 14 e 32 pintadas em branco, ressaltadas nas suas cabeceiras, luzes de balizamento, luzes de taxi, iluminação do pátio de estacionamento, biruta amarela ao vento… Completo? Não. Faltou alguma coisa!… Tráfego aéreo! Movimento no aeroporto!
Foi inaugurado o terminal, uma ótima pista de pouso, principal “avenida” de uma cidade como diria um especialista norte americano, mas, e os aviões, que trariam aquelas pessoas dispostas a investir e fomentar o crescimento de Jequié e região e se utilizariam deste aeroporto, desta “avenida” para entrar ou sair da cidade, para onde foram afinal?
Será que faltaram atrativos, faltaram incentivos, faltaram garantias de boas perspectivas futuras em Jequié? Aquela história do “Jequié já teve ou vai ter” continuará valendo?
O fato é que, ao longo dos anos e das manhãs ensolaradas e como amadores entusiastas da aviação, voando com “brinquedos de gente grande” naquele democrático espaço aéreo, acompanhamos entristecidos, e sem saber o porquê do progressivo desaparelhamento do Aeroporto Vicente Grillo que teve seus equipamentos exportados para outras pistas… O que fazer então, de novo?
O diagnóstico e o tratamento para o problema do ponto de vista técnico já existe, pois já foi feito (e bem feito!) anteriormente, repetimos, com a reconstrução do terminal de acordo com as normas operacionais vigentes e adequadas a situação geográfica de Jequié. Porém, uma nova reforma e reaparelhamento que o Vicente Grillo requer colocando-o novamente em condições desejáveis de operação não será o suficiente, pois um aeroporto, um terminal aeroviário por si só não existe, é inerte, sem vida. Assim, faz-se necessário que os responsáveis pelos rumos, principalmente econômicos, da nossa cidade e região, sem individualismos, atuem como elementos polarizadores, aglutinadores, incentivando investimentos, abrindo perspectivas de desenvolvimento real, progressivo, tornando o Terminal Aeroviário Vicente Grillo (SNJK) um equipamento vivo, cartão de visita da cidade, fazendo jus ao seu propósito primordial, porta de entrada (e de saída) de riquezas, o que sem duvida alguma, certamente contribuiria sobremaneira para o engrandecimento e o desenvolvimento que Jequié merece.