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Opinião: Com a demissão de José Américo, Câmara perde assessor, mas Ipiaú resgata o jornalista

Por Wilson Midlej

Jornalista José Américo Castro

Embates políticos, confrontos de ideias e conflitos ideológicos são ingredientes naturais que compõem a existência do legislativo no contexto da sociedade civil. A imprensa regional acompanhou à distância o imbróglio gerado na Câmara Municipal de Ipiaú desde a renúncia do vereador José Carlos Bispo dos Santos, presidente eleito para o biênio 2017/2018. Na sequência das sessões os grupos antagonistas utilizaram dos habituais expedientes de pedir vistas, combinar ausências em massa para fugir do número regimental para o quórum legal, culminando com a remessa da questão para arbitragem do judiciário local. Insatisfeito com a sentença, um dos grupos recorreu ao Tribunal, que manteve a decisão da primeira instância.

Na sessão da quinta-feira (6), a presidente em exercício, vereadora Simone Coutinho fez constar na pauta dos trabalhos do dia a leitura e votação da ata original e encaminhou a votação, saindo vitoriosa a chapa liderada pelo vereador San de Paulista, por sete votos a treze, como próximo presidente do legislativo municipal, período 2018/2019, apesar das controvérsias quanto a legitimidade, segundo avaliação de advogados especializados na área. Causou espécie que entre os procedimentos de praxe, sem qualquer motivo aparente, a presidente mandou para publicação, portaria exonerando o Assessor de Imprensa José Américo da Matta Castro, como se fora ele, o profissional, mais um integrante do corpo de adversários da vereadora.

Segundo o apurado, Zé Américo, um jornalista de nível ético, elegante e discreto, foi, sem maiores explicações, e para surpresa de muitos, exonerado peremptoriamente dos quadros da Instituição. A Portaria foi publicada sem que um aviso sequer fosse direcionado ao cidadão que há tantos anos atua naquela Casa de Leis.

Com a exoneração, a Câmara Municipal de Ipiaú perde um assessor de imprensa de bom nível, mas em compensação, a cidade, o município e a região ganham um jornalista crítico reflexivo, atento aos fatos, com fina capacidade interpretativa, analítica e formador de opinião, que em razão da função que exercia, se eximia de aprofundar-se nas questões do legislativo, limitando-se ao rigor do jornalismo informativo, como prevê a Constituição Brasileira, tendo a Comunicação Social de órgãos públicos como instrumento de publicidade e transparência dos atos oficiais.

Assim, ao longo dos anos, o jornalista José Américo Castro se dedicava a informar atos oficiais, projetos de Lei, moções, proposições e assemelhados, mister de sua tarefa no órgão. Ex-ofício, eventualmente, atuava como redator para os edis que recorriam à sua experiência.

A imprensa da região observava e comentava intra-muros a autolimitação com que o jornalista sempre se ateve em assuntos que envolvesse críticas ou elogios ao Poder Legislativo.

A comunidade deixava de contar com um jornalista de conceito superior, dotado, por formação, de absoluta liberdade para utilizar, com sabedoria, sua habilidade e coragem participar mediante a análise lúcida, contando o conhecimento e amplitude de sua inteligência, temas que a população reclama e exercita sua capacidade de indignar-se, de denunciar atos ilícitos, aprofundar-se nos subterrâneos da política, apontando o que deve ser mostrado e louvando o que deve ser louvado. Em virtude da sua posição na Câmara de Vereadores de Ipiaú, Zé Américo sempre se esquivou do papel, que a rigor lhe cabe, de protagonizar tais ações.

Por mais paradoxal que possa parecer, a atitude deselegante da sempre gentil vereadora Simone Coutinho, no exercício interino da presidência, foi de redenção, devolvendo a Zé Américo, a liberdade e independência de abordar os variados temas de interesse da população.

Ao exonerar um renomado profissional como se fosse ele um dos milhares de penduricalhos de políticos existentes no cenário da função pública brasileira, logo ele, graduado em Comunicação Social, presidente do Conselho Municipal de Cultura, poeta e escritor, que há mais de duas décadas vem cumprindo o seu desiderato em local compatível e de maneira escorreita e competente…

O ato foi perpetrado, justo por uma representante do sagrado feminino. A quem é atribuída significativa carga de sensibilidade, de equilíbrio e justiça. Talvez ela nem tenha consciência da extensão do equívoco cometido através do ato.

É claro que vereadora Simone Coutinho, no exercício da presidência da Casa, tem, absolutamente, o direito de escolher os servidores que ficam e os que devem sair. Segundo uma das fontes de informação não fosse a interinidade, poder-se-ia pensar em aproveitar um correligionário ou um profissional de imprensa da sua corrente partidária. Tal ação, embora incomum, é inerente à função. Esperava-se apenas que fosse mais elegante, que tivesse a gentileza de chamar o jornalista que ali atuou por mais de 20 anos, para comunicar a decisão. Lamentável que tenha sido assim. Tantos anos de serviços prestados e nem a consideração de um cumprimento… A atitude é, também, atribuída a seus pares e a seus correligionários.

Convocado pelo então presidente Edvaldo Santiago, o celebrado Tatai, Zé Américo enxergou na Câmara de Vereadores a oportunidade de, mesmo ganhando muito pouco, legislatura após legislatura, construir uma cultura ética nas comunicações sociais, fixar a importância da transparência, valorizar a assessoria, ensinar sem oprimir…

Ele escreveu a história da Câmara como vem escrevendo a história de Ipiaú e de vultos regionais. Produziu centenas de textos, um sem-número de reportagens tendo a Câmara de Ipiaú como foco, produziu um jornal de excelência, que além de porta-voz da Casa, era o informativo da própria comunidade ipiauense.

A qualidade do site da Câmara tem muito da sua capacidade profissional. A sua presença diuturna na Casa de Leis suscita o apoio a cada vereador, independentemente de coloração partidária, na elaboração de projetos, indicações, pronunciamentos, ensinava e omitia-se quanto à autoria.

Zé cidadão, Zé poeta, Zé escritor, Zé agitador cultural, Zé ipiauense bem que poderia candidatar-se a qualquer cargo eletivo, chegaram a tentar convencê-lo a ser vereador, nunca aceitou. Quem sabe seja tempo de ele pensar nisso? A exigência de novos perfis está a impor essa possibilidade… Nós, da imprensa regional, haveremos de perdoá-los e também agradecê-los por devolver o jornalista José Américo da Matta Castro ao mercado de trabalho, onde, mercê de Deus, poderá obter remuneração compatível com seu talento, promovendo a manutenção da sua família, com a dignidade habitual.

Que nesse período de Natal, onde todos confraternizam e comemoram, Zé Américo possa superar a decepção da desconsideração e, sobretudo, possa exercitar o perdão e a compreensão pelos mesquinhos atos humanos.

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