A construção de uma ferrovia federal no interior da Bahia, cortando o Estado de oeste a leste, deparou-se com um problema inusitado: depósitos de fósseis de animais pré-históricos, como preguiças gigantes e mastodontes, seriam “atropelados” pela linha do trem. “Eles estavam literalmente no meio do caminho”, disse ao Estado a professora Carolina Scherer, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Ela coordena um time de pesquisadores que, com recursos de R$ 2,8 milhões da Valec, estatal responsável pela construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), dedica-se a coletar, catalogar e identificar os fósseis desde janeiro deste ano.
Os primeiros resultados da pesquisa serão apresentados no 9.º Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados, que será realizado em agosto, no Espírito Santo.
Até o momento, os animais encontrados são do período Pleistoceno, de 2 milhões a 10 mil anos atrás. São espécies mais “recentes”, que podem ter convivido com os primeiros hominídeos. Para se ter uma idéia, os dinossauros são bem mais antigos: de 220 milhões a 65 milhões de anos atrás.
A espécie mais impressionante entre as já identificadas é, provavelmente, a preguiça gigante. “É um animal que podia chegar a seis metros”, descreve a professora. Também foram encontrados ossos de duas ou três espécies de gliptodontes, que são aparentados gigantes de tatus e tatus gigantes.
“É por isso que a gente fala em ‘megafauna’ na região”, afirma a professora. É nessa categoria que se enquadra o toxodonte, outro animal já extinto. “Ele se assemelha a um hipopótamo, embora não seja aparentado e não tenha deixado descendentes”, disse Carolina. Também foram achados restos de mastodontes – semelhantes aos mamutes, que habitaram o Hemisfério Norte.
Há também resquícios de cavalos já extintos e restos de casco de cágado. No total, são sete espécies já catalogadas. Nenhuma delas é inédita no Brasil, segundo Carolina. Por enquanto, o que há de novo é a área onde os fósseis foram localizados.
As pesquisas estão concentradas no município de Guanambi, onde foi encontrada uma formação rochosa que os paleontólogos chamam de tanque. É uma depressão que parece uma piscina natural e onde se acumula água. Há outro tanque semelhante nos municípios de Anagê, Vitória da Conquista, Palmas do Monte Alto e Matina.
O trabalho paleontológico conta com a cooperação também da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que faz um trabalho educacional, de conscientização patrimonial das comunidades afetadas.
Sítios
Além dos restos de animais, também foram encontrados cerca de 80 sítios arqueológicos no trajeto da ferrovia. São cerâmicas, pinturas rupestres, sítios líticos e históricos. Esse material vem sendo resgatado e será analisado, segundo explicou o gerente de Arqueologia da Valec, Fábio Campos.
Todos esses sítios foram detectados ainda na fase de planejamento da ferrovia, de forma que o resgate ocorre simultaneamente à obra. Porém, afirmou o gerente, isso não provoca atrasos – apenas “ajustes no cronograma”. Ele disse que, uma vez localizado um sítio a ser pesquisado, as máquinas e operários são transferidos para outras frentes de construção até que o resgate seja realizado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.