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Entrevista

SETEMBRO AMARELO: mês da prevenção ao suicídio. Psicóloga esclarece dúvidas sobre depressão e suicídio, algo tão recorrente nos dias atuais.

JN: Porque as pessoas cometem suicídio?

Virna Lelis: Porque elas estão amedrontadas, angustiadas e cansadas demais de lutar contra o que sentem. O medo é um sentimento necessário e inerente ao ser humano, mas é preciso controlá-lo, para que ele não domine seu pensamento e dite seu comportamento. É importante ressaltar que ninguém pensa em suicídio por querer morrer, mas sim por desejo de se livrar da dor. Geralmente, as pessoas acometidas de algum transtorno mental, transtorno de personalidade e depressão, são as que mais pensam nessa possibilidade como fuga do sofrimento em questão. Outras, por estarem passando por enfermidades como câncer, ou outra patologia e sofrendo algum tipo de abuso. Por último, mas não menos importante, as pessoas que estão passando por algum tipo de luto, seja ele por morte, perda de emprego, relacionamento, ou qualquer outro motivo que o deixe desamparado diante de suas questões interiores.

 

JN: Quais são os sintomas de alguém que esteja com depressão?

Virna Lelis: Parece uma pergunta simples, mas não é, pois a nomenclatura “depressão” é muito conhecida, mas desconhecida nas suas configurações. A depressão possui graus diferentes e que se diferenciam nas suas manifestações. Muitas pessoas julgam erroneamente, quando sabem que alguém que está com depressão, está sorrindo ou saindo para as festas. Mas este tipo de comportamento pode sim ocorrer e eu explico os motivos: depressão pode causar insônia ou sono excessivo; diminuição drástica ou aumento do apetite; ausência total da libido ou compulsão sexual; total apatia e falta de vontade de sair de casa ou euforia e busca incansável em sair de casa todo o tempo. Pode acontecer tudo isso numa mesma pessoa alternadamente ou ao mesmo tempo. Cada cérebro reage de uma forma a uma determinada situação. Não podemos reforçar o estigma de que alguém depressivo vai estar sempre em casa chorando, sem querer comer ou tomar banho. Este pensamento desvia/distancia muita gente do diagnóstico e tratamento adequado.

 

JN: Quais são os sintomas de alguém que pensa em cometer suicídio?

Virna Lelis: Em algum momento, ele vai falar sobre o ato. Neste momento, é preciso estar bem atento à fala do outro. Não julgue como algo bobo ou passageiro, acolha, escute e tente achar um profissional psicólogo para aquela pessoa. Você pode salvar uma vida. Sem apontar, sem ferir, sem condenar.

 

JN: O que você aconselha fazer quando o depressivo não quer ser ajudado?

Virna Lelis: Difícil questão. Toda ajuda que podemos dar ao outro, parte do princípio do seu desejo de querer sair daquela condição. Nada que se faz obrigatoriamente, pode ter resultados positivos. Entretanto, você pode estar conversando, se mostrando disponível sempre que necessário, dando total apoio e afeto. Desmistifique a doença, fale que toda pessoa pode ser acometida pela depressão em algum momento e que uma conversa com um amigo ou familiar traz benefícios, mas nunca será suficiente para tratar aquela condição como um tratamento psicoterápico e talvez, com uso de medicamentos específicos, passados por um psiquiatra.

 

JN: Porque nem todos podem ajudar uma pessoa que pensa em suicídio?

Virna Lelis:Porque, muitas vezes, o discurso de alguém que tenta ajudar, com frases motivacionais ou algo do tipo, pode ocasionar o efeito reverso e a pessoa depressiva se sentir ainda mais deprimida e inadequada. Basta que você esteja sempre ao lado. Convide-o para algo que o faça se distanciar brevemente do problema, como um esporte, uma dança, uma saída rodeada de amigos, ou seja lá o que for fonte de prazer para esta pessoa. Ressalto que o apoio de algum amigo ou familiar é de extrema importância, mas o ideal é procurar um psicólogo.

 

JN: Como um Psicólogo pode ajudar?

Virna Lelis: Em processo psicoterápico continuado. As pessoas possuem suas singularidades e cada um carrega consigo sua história pessoal. Através de um acolhimento, escuta neutralizada, anamnese detalhada, testes (se for necessário) e análise técnica. Assim, o psicólogo poderá traduzir os sintomas e pensamentos que as pessoas apresentam, dando novo significado ao sofrimento. A pessoa precisa se encontrar no que vai dar novo sentido e prazer à sua vida, mas isso só será percebido através da fala, pois é através dela que nós nos constituímos como sujeito. O ato de falar sobre o que nunca foi dito, pode salvar uma vida, mas só o psicólogo terá a habilidade de elaborar esta questão de forma eficaz.

 

Virna Lelis Senhorinho de Queiroz

CRP 03/10688

Psicóloga formada pela UNIME de Itabuna-BA.

Atua na área de Psicologia Jurídica na Defensoria Pública de Jequié-BA.

Fonte: Jequienoticias