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Casca da jaca pode ser utilizada na produção de enzimas para detergentes

Qual a relação pode existir entre a casca de uma jaca, um fungo e manchas presentes em tecidos de algodão? Aparentemente, essa combinação não faz muito sentido. Contudo, a pesquisadora Dhiéssica Ribeiro reuniu esses elementos em um estudo científico desenvolvido no Mestrado em Química da Uesb, campus de Jequié. A proposta do trabalho foi produzir, classificar e aplicar enzimas em detergentes comerciais, verificando a eficácia dessa combinação na remoção de manchas, como aquela sujeira deixada por molho de tomate.

Segundo a pesquisadora, as enzimas são catalisadores biológicos de grande interesse industrial, devido sua capacidade de possibilitar que inúmeras reações químicas ocorram em condições suaves, em comparação aos processos químicos tradicionais. Mesmo apresentando variedade de aplicações, o uso de enzimas em escala industrial é limitado por conta do alto custo.

Pensando nisso, Dhiéssica encontrou uma possibilidade de produção dessas enzimas através do processo de fermentação entre o fungo Penicillium camemberti ATCC 4845 e o resíduo da casca da jaca. Por meio desse experimento, foi possível extrair enzimas como amilase, celulase e lipase, geralmente utilizadas em formulação de detergentes, segundo levantamento feito pela pesquisadora. Em seguida, foram selecionadas três marcas de detergentes comerciais e feito um teste de compatibilidade dessas enzimas.

Nessa testagem, os detergentes foram diluídos em água destilada, submetidos a uma elevada temperatura para desnaturar quaisquer enzimas que porventura estivessem presentes na formulação dos detergentes e adicionado o extrato enzimático bruto nessas soluções. “Após determinar a marca de detergente que proporcionou melhores atividades, as enzimas foram incubadas em uma solução do mesmo para determinar a estabilidade”, explica a pesquisadora.

Com o objetivo de provar a eficácia da solução detergente-enzimas na remoção de sujeiras, pedaços de tecido feitos com 100% de algodão foram manchados com gema de ovo, molho de tomate e óleo de soja. Esses materiais foram submetidos a diferentes tratamentos: apenas com água, apenas com detergente, com detergente e extrato enzimático e com detergente e uma quantidade aumentada de extrato enzimático.

Em seguida, os tecidos foram lavados com água destilada e secos. Por meio de um exame visual, o estudo demonstrou que as lavagens dos tecidos com detergente e extrato enzimático tiveram melhor desempenho. “De acordo com os resultados encontrados neste trabalho, vimos que é possível obter enzima de baixo custo, e que detergentes com enzimas se tornam mais eficientes na remoção de sujidades”, aponta Ribeiro.

Com potencial para utilização em detergentes, as enzimas vêm ganhando espaço em pesquisas, sendo cada vez mais utilizadas pelas indústrias do setor. Nesse sentido, o estudo também realizou uma prospecção tecnológica, avaliando os países depositantes dessas patentes, os anos de depósitos, as empresas detentoras dessa tecnologia e as enzimas mais aplicadas. A prospecção foi feita utilizando duas bases de dados livres de depósitos de patentes, o European Patent Office (EPO) e o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi).

“Para o setor industrial, o trabalho apresenta uma alternativa para obter enzimas de baixo custo e que podem ser aplicadas em formulações de detergentes, como comprovado no trabalho. Além disso, podem ser testadas em outras aplicações”, defende Ribeiro. Outro fator positivo da pesquisa é o aproveitamento de resíduos, com a utilização das cascas de jacas como substrato para a produção das enzimas. “Uma vez que são descartados de forma inadequada, [esses resíduos] podem prejudicar o meio ambiente, gerando possíveis impactos ambientais. Então, por que não procurar uma forma de reaproveitar?”, completa a pesquisadora.

 

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