Durante muito tempo, a história dos negros foi contada por outras vozes que não as do negro. Buscando resgatar as memórias que estão submersas por detrás de toda convivência e da ancestralidade que perpassa gerações, a Uesb desenvolve o projeto de extensão “Quilombo de Thiagos: espaço de memória, identidade e produção cultural”.
Embora a comunidade seja reconhecida como católica, existem traços da manifestação cultural, inclusive, de ordem religiosa, que estão imbricadas com a cultura e ancestralidade afro-brasileira. Dessa forma, o projeto visa resgatar a memória através de palestras e oficinas, onde cabelo, vestimenta, dança, música, instrumentos, aspectos religiosos, dentre outras características culturais negra são abordadas.
Para o professor Luciano Lima, coordenador do projeto, trabalhar a identidade na comunidade quilombola é uma forma de reconhecimento da cultura desse povo. “A gente entende que a cultura negra é tão rica quanto qualquer outra cultura. O que a gente percebe é que lemos a cultura do outro a partir do olhar da nossa cultura. Então, para que a gente entenda a beleza, força, que é pertencer a essa ou aquela cultura, a gente precisa se reconhecer como membro pertencente”, pontuou Lima.
Há mais de três anos, o projeto é desenvolvido no Quilombo de Thiago, localizado em Ribeirão do Largo (BA). De acordo com Lima, alguns impactos já podem ser observados. “Embora estivessem morando no quilombo, muitos componentes não se reconheciam, a princípio, como quilombola, achavam que isso era uma besteira ou coisa parecida”, contou. No entanto, essa mentalidade vem sendo mudada, “porque as pessoas passaram a se reconhecer como quilombolas, como descendentes de pessoas da cultura africana e afro-brasileira”, completou.
Uma das ações desenvolvidas pelo projeto de extensão é a “Semana da Consciência Negra”, realizada no campus de Itapetinga. Neste ano, o evento trabalhou o tema “Ancestralidade, cultura e resistência”, como forma de dar visibilidade a voz e a cultura das pessoas negras. Na programação, estavam presentes as exposições “O mundo sagrado dos orixás” e “Os colares sagrados”, além da apresentação do samba de roda do quilombo.
Para Ana Paula Abade, moradora e coordenadora do grupo de samba de roda do Quilombo de Thiagos, poder exibir um pouco das manifestações da sua comunidade em outros espaços é de suma importância para a valorização e reconhecimento da cultura negra.
“Digo que o samba de roda precisa ser mais visto por outras pessoas. Precisamos fortalecer esse grupo. Muitas vezes, já pensei em desistir, porque tem pessoas do quilombo que deveriam estar com a gente, sambando, mostrando sua raça, e, às vezes, se escondem. Então, isso aqui para a gente é de extrema importância. Agradeço a Uesb e fico muito feliz por estar aqui hoje’, destacou Abade.