O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e, frequentemente, acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Entre as principais características, estão sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o Brasil possui cerca de 2 milhões de pessoas adultas com TDAH.
Diante desse alto número de casos, novos estudos com o intuito de auxiliar o tratamento dessa condição são, cada vez mais, frequentes. É o caso da pesquisa “Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) e efeitos terapêuticos no TDAH: perspectivas futuras”, realizada pelo professor Jefferson Meira e pela estudante Ingred Cristina Silva, ambos do curso de Medicina da Uesb, campus de Jequié.
A pesquisa busca analisar, de forma descritiva e qualitativa, a eficácia da Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) em adultos com diagnóstico de TDAH. Essa técnica é uma forma de estimulação não invasiva, na qual é aplicada uma corrente elétrica de baixa voltagem no couro cabeludo em regiões diretamente relacionadas a transtornos psiquiátricos. É considerado um procedimento quase isento de efeitos colaterais e com poucas contraindicações.
Estruturado como um ensaio clínico randomizado, no qual os pacientes foram divididos em quatro grupos distintos, o estudo utiliza ETCC ou sham associado a não psicoestimulantes. A vantagem do ETCC é potencializar o efeito do medicamento ou mesmo ser uma alternativa quando o medicamento for uma contraindicação.
“Essa estimulação elétrica tem, por principal mecanismo de ação, a neurogênese e neuroplasticidade, induzindo o cérebro a estabelecer novas conexões neuronais. Para alguns transtornos psiquiátricos, a ETCC tem nível de evidência A, como é o caso da depressão”, destaca Meira.
A pesquisa aponta que o tratamento do TDAH ainda é bastante limitado. Há uma quantidade pequena de medicamentos e a oferta disponível possui diversos efeitos colaterais, podendo, ainda, colaborar para um potencial abuso. Nesse contexto, é fundamental que novos recursos terapêuticos sejam estudados, como é o caso do ETCC.
O estudo ainda é embrionário, mas as revisões realizadas demonstraram resultados promissores. “Ainda é necessário maiores estudos, com poder estatístico, maior tamanho amostral e comparações entre grupos a fim de maiores conclusões”, afirma Meira, que vem desenvolvendo o trabalho científico em seu Doutorado.
A pesquisa conta com a colaboração do professor Leandro Valiengo, da Universidade de São Paulo (USP), instituição que é referência nacional em Neuromodulação. Os primeiros resultados já foram publicados em formato de capítulo de um livro, bem como apresentados em evento científico. “O estudo é original e revolucionário. Se der resultados, colocará a Uesb como uma das instituições promotoras de conhecimento científico nesse ramo”, finaliza Meira.(Ascom/Uesb)