Nunca fui chegado a empréstimo de objetos pessoais de amigos. Com certeza, fruto de criação! Quanto a mim, tenho até prazer em emprestar, preferencialmente, se não hospedarem meus pertences no famoso hotel do esquecimento. Só pra exemplificar, no tempo dos vinis, o professor Zé Carvalho, amigo e apaixonado por música, emprestava-me os discos dele pela manhã, eu gravava minhas fitas (sabem o que é isso?) na hora do almoço e, à tarde, antes do futebol, eu já devolvia aquelas preciosidades, intactas!
Lá um dia, em plena praça Rui Barbosa, final de tarde, na companhia agradável dos meus amigos fraternos Cid Teixeira, Micheli, Evandro Lopes, Juracy Novato, Cel. Ivo, Hosanah Tolomei, Dr. Vanderli, Wilson Midlej, Mirabeau, Joel Nogueira, João Mendes (que pessoas!) eis que, de repente, não mais que de repente, surge o amigo Artur, com o seu modo zen, e me diz: “Meu preto, tudo bem? Olha o que trouxe pra você ler: uma revista sobre João Gilberto, seu ídolo!” E agora, o que é que faço pra recusar o empréstimo, sem ferir meu amigo, Artur (Produções)? Pedi ajuda ao céu e usando a forma zen dele falar, consegui, com algum esforço, expressar: – Meu preto, é o seguinte, eu não vou levar a revista porque estou com muita coisa pra ler no momento, mas depois prometo rever esse assunto, tá bom? Foi mesmo que nada! Ele deixou a revista comigo e se mandou, feliz da vida! Levei a dita para casa.
Acontece que dias depois me mudei de casa e, pra minha infelicidade, a revista de João/Artur desapareceu. Revirei a nova casa de ponta cabeça e nada! E agora José, o que é que eu faço? Um mês depois, ele me perguntou: “Meu preto, tá gostando, boa né?” Comecei a me preocupar! Será que Artur vai estar na rua? Quando o via de longe, acenava e ele: “E aí, terminou de ler?” Comecei a ficar com medo, medo de encontrar Artur! Mas, como meu santo é forte, não desesperei! Nesse ínterim, indo ao Rio participar de um congresso, eis que, em plena Copacabana, numa pequena livraria, quem me aparece? O próprio João Gilberto, na capa da já famosa revista! Comprei como se fosse um Rolex e trouxe com o máximo cuidado, procurei Artur e, finalmente, lívido, devolvi o seu tesouro! Ufa!
P.S. Amigo chega de saudade!