Parece brincadeira, mas não é que a Lua apareceu aqui em casa também! Todavia, não quis entrar, ficou de longe, desconfiada, me olhando de soslaio; parecia sequer ouvir meus apelos para que apeasse e viesse entabular um dedo de prosa. Ofereci café, uma água de coco. Nada! Continuou boiando no céu nublado, parecendo cochilar no seu quarto minguante, cismando com seu Romeu Sideral!
No entanto, com jeito pra não espantar a musa celestial, perguntei: – O que você faz de tão especial para encantar o Sol, enfeitiçar os casais apaixonados e ganhar de presente o olhar luminoso das crianças? Nessa hora, creio ter atingido o seu ponto vulnerável: a charmosa vaidade feminina! Jogou os cabelos de um lado para o outro, como elas gostam de fazer e, finalmente, abriu-se ao diálogo, fazendo-se de desentendida: “Sinceramente, você acha mesmo que tenho essa capacidade magnética toda? Sei não, viu?!”
Nesse momento, um sentimento doce tomou conta de mim e da atmosfera que gravitava entre nós, mas não perdi o rumo. Segui em frente e respondi: – Claro que sim! O Sol por exemplo, desde que nasce, fica a sua volta jogando raios de luz sobre você, feito um vagalume apaixonado! Você não sente?! Ela falou com veemência: “Sinto! Mas, bem que ele poderia ser mais objetivo e parar de rodeios! Você não acha? Há momentos que fico cheia, esperando por um encontro, um abraço e ele me aparece com um papo eclipsado! Paciência, ora! Aí, volto a minguar!”
Não foi fácil prosseguir, quase desisto. Sofri com a Lua! Respirei fundo e retomei o fio da meada:- Não fique cabisbaixa nem perca a esperança! Conheci muitos noivos que levaram décadas enrolando suas amadas, mas um dia, a casa caiu e finalmente entraram na igreja! Nessa hora, a Lua esboçou um sorriso, enxugou as lágrimas e seu rosto brilhou! Dei-lhe força: – Olha só como os casais aguardam você todas as noites para contemplar a doçura da sua luz e o galope célere do tordilho de São Jorge! Nessa hora ela sorriu alto e, num tom amigável, falou: “Não exagere, meu Rei! É, mas isso é verdade! Tenho com os namorados uma relação séria de cumplicidade! Eles acompanham minhas fases e eu, as deles!”
Pra finalizar nosso encontro, disse-lhe olhando nos olhos: – Por favor, nunca fique triste! Lembre-se das crianças encantadas por você em meio a tantas estrelas! E antes que me esqueça, ouça: – Todo violeiro que se presa ama você! Esquece o Sol, vamos, você é a nossa paixão! Feliz com o nosso bate-papo, ela não aguentou e sussurrou em meu ouvido: “Mas, vem cá, o que é que o Solzinho conversou com você ontem?” Despistei meio sem jeito e respondi:- Nada demais, amenidades, coisas de amigos! Ela sorriu, piscou os olhos e falou: “Acredito muito! Hum…e seguiu viagem!